sexta-feira, 12 de abril de 2013

Brasil, uma grande criança mimada



O grande problema de uma sociedade em fase de crescimento, como a do Brasil, é a incoerência. 

Como já até escrevi algumas vezes, as coisas só são certas quando são a favor, quando alteram em qualquer ponto o status quo, a pessoa/sociedade, age como se fosse uma perseguição, algo pessoal, tal qual a famosa personagem Veruca, de A Fantástica Fábrica de Chocolate.
Estamos vivendo uma época de profundas transformações. 

A principal delas é a divisão de poder. Por definição, poder é algo finito, portanto para que alguém tenha mais poder, alguém tem que perder. E por nossa sociedade ainda estar na fase de desenvolvimento de pelos pubianos, causa um grande desconforto.

Abrir mão de poder, por menor que seja é algo complicado em uma sociedade na qual se valoriza muito mais a posse do que o uso. Mesmo que países mais "adultos" deem claras manifestações de caminharem para o caminho oposto.

A sociedade tende a ter memória muito curta. Já vivemos N situações desse tipo, em menor ou maior grau. Um exemplo muito claro foi a entrada das mulheres no mercado de trabalho. Vamos ao exemplo.

 Há bem, bem pouco tempo atras, as mulheres não faziam parte efetiva do mercado de trabalho, e mesmo quando fazia não tinham grande contribuição no orçamento doméstico. Seus empregos eram muito mais considerados como Hobbies do que trabalhos em si, o poder de comandar a casa cabia ao homem, já que este era o provedor, este ditava as regras, preferia arcar com todo peso desta responsabilidade. Era o chefe da família.

Engraçado como as figuras de linguagem explicam muito. 

Chefe de família, fica clara a hierarquização da instituição. E é chefe pois é ele quem traz o dinheiro, (e dinheiro sempre foi, é, e queiram ou não, vai continuar sendo poder, mas isso é tema para outro post).

Um ponto muito interessante da psicologia humana é a aversão às perdas. O ser humano se sente muito pior em perder do que, comparativamente, ganhar. Quem quiser se aprofundar um pouquinho sobre este tema, aqui tem um bom começo, e uma boa bibliografia http://en.wikipedia.org/wiki/Loss_aversion

Com base nisto, podemos entender por que, no caso da entrada da mulher no mercado de trabalho, a aversão inicial, uma vez que a perda de poder do homem dentro de casa, uma vez que a mulher passaria a contribuir cada vez mais com o orçamento doméstico, é muito mais sentida do que os ganhos que a família passaria a ter, com um maior rendimento.

Foi necessária, literalmente, uma revolução das mulheres para tentar quebrar este paradigma e tomar um pouco de poder.

Em maior escala, vemos esse mesmo sentimento na mobilidade de classe social. A partir do momento que classes menos favorecidas passam a ter maiores recursos financeiros, passa a ter mais poder, e apesar de todo benefício que isso possa trazer à sociedade como um todo, por conta de nossa aversão à perda, o foco maior se dá à diminuição do poder das classes superiores.

(E apenas para deixar bem claro, e já deixando o tema para um próximo post, acredito que apenas o capitalismo propícia essa mobilidade entre as classes, e que apesar que a tendência é a busca por um equilíbrio, pessoas não são iguais, tentar trata las iguais é artificial, sempre existirão pessoas melhores e mais bem capacitadas que outras, e estas devem sim usufruir das vantagens obtidas pelo seu esforço.)

Isso fica evidente em dois casos recentes, o da regulamentação das empregadas domésticas e do direito dos gays. Existem muitos outros, mas para o texto não ficar cansativo, vou ficar apenas nestes dois.

Vamos ao caso das domésticas. Ao meu ver, o que acontece é o seguinte, uma grande parcela dos empregadores não enxergam esta relação como uma relação de trabalho, e sim como uma relação de assistencialismo. Algo do tipo, "Como exigir direitos, se ela não estivesse trabalhando comigo ela não teria oportunidade alguma na vida, estaria na miséria. Depois de ter aberto minha casa a ela, é este o agradecimento que recebo?". E aqui não faço nenhum juízo de valor. Não acho que quem pensa assim é mau caráter, nada disso. Mas a mudança do equilíbrio de poder é algo traumático. Quem pensa assim, acredito eu, na grande maioria dos casos, acha sinceramente que é um benfeitor. Mas não é. É um empregador, em uma relação de trabalho, na qual existem direitos e deveres de ambas as partes. Dentro das argumentações que li, o menor problema é a questão do quanto mais dinheiro seria desembolsado, e sim no quanto de poder que deixaria de estar concentrado nas mão de quem emprega. 

Já no caso do casamento gay, temos algo parecido. O que esta em jogo aqui não é o simples fato de duas pessoas que você não conhece, não convive, etc, poderem ou não casar, e sim a perda do poder de definir o que é normal ou não. A partir do momento em que é estabelecida uma igualidade de direitos a uma parcela da população que vive um estilo diferente do seu, fica claro que sua opinião não é mais importante que a dos outros, o seu poder passa a ser diluído, e em uma sociedade na qual o lugar que se ocupa é intimamente relacionado a quantidade de poder que possui, é novamente bastante traumático.

A tentativa das igrejas em tornar seus dogmas em leis não tem nada a ver com o que acreditam, afinal, se o que eles acreditam é verdade, por que não deixam as pessoas viverem da maneira que querem e depois serem punidas eternamente no fogo do inferno? A questão é pavimentar e consolidar o poder, pura e simplesmente isso.

Voltando ao título do texto, por que comparei nossa sociedade a uma criança mimada? Pois esta tem poder sobre os pais, e o poder, em maior ou menor grau, te dá o direito de não ser contrariado.

Estamos vivendo uma fase de redistribuição e redefinição de poder. O mundo caminha para uma época na qual o poder emana mais do uso do que da posse. De nada adianta deter coisas se não souber como às utilizar. E aqui vale para dinheiro, conhecimento, cargo hierárquico etc.

"Growing Pains", mas esse é o preço de um amadurecimento tardio. Apenas espero que cresça logo, saia da barra da saia da mãe, arrume um emprego e comece a encarar a vida como adulto

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