domingo, 25 de setembro de 2011

Eles não acreditam

Longe de mim querer apelar para um argumento de autoridade, mas esse é um vídeo que sempre me arrepia.


Gente brilhante, com declarações brilhantes.


Vale ganhar uma horinha de sua vida vendo isso....






quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dawkins fala ao New Yourk Times

Dando uma pausa na retrospectiva, gostaria de dividir com vocês este perfil do Richard Dawkins feito pelo New York Times.

Poucas coisas me emocionam tanto quanto pessoas que falam com paixão sobre o conhecimento científico.

E é legal ver que o caminho para a conversão é sempre o mesmo.

O conhecimento científico.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

50% +1 - Mais da metade da vida não acreditando, e sendo muito feliz por conta disso (Parte 3)


Depois de uma pausa, vamos para a parte três da história, na qual conto como foi o momento de assumir para o mundo a minha posição como ateu, mas principalmente o dilema em assumir para mim mesmo.

E se é a primeira vez que você esta vindo aqui, você pode ver a parte 1 aqui, e a 2 aqui.

Capítulo 3 - A lanterna dentro do armário

Ok, deus não existe, e agora? Você foi criado desde o nascimento acreditando que estamos aqui com um propósito, que existe alguém sempre olhando por nós, que essa vida é só uma passagem, que tem um lugar bem melhor nos esperando desde que sejamos bons e toda essa baboseira. De repente, você descobre que nada disso é verdade. Como proceder?

Tenho que adimitir, o primeiro momento em que pensei “deus não existe!”, foi estranho, muito estranho. Estranho, de ficar com frio na barriga. Aquele sentimento de estar fazendo algo muito, mas MUITO errado.

Me lembro como se fosse hoje, sozinho na sala, depois de ter lido mais algum dos inúmeros textos da STR, olhando para a tela do computador, pensei uma, duas, três vezes. Sinceramente, achando que algo iria acontecer. Juntei forças e falei em voz alta, esperando, sei lá, que um raio caísse sobre a minha cabeça, que o quadro de Jesus, que tínhamos na sala, começasse a falar, alguma coisa sobrenatural. Mas nada aconteceu.

Momento de reflexão: Isso só para ilustrar a maldade que a maioria dos pais fazem ao doutrinar uma criança, claro, muito sem se dar conta disso, mas é algo cruel, e que não tenho dúvidas que daqui a alguns anos, ok, alguns não. Daqui a muitos anos, será considerado um tipo de abuso psicológico dos mais perversos.

Esse primeiro momento foi bem confuso. Por um lado, tinha bem claro para mim, que nada disso existia, mas por outro, a culpa estava ali, presente, chegando até a ao ponto de sentir vergonha por estar me desviando tanto do caminho considerado o normal.

Não sei como deve ser esse momento para quem assume ser gay, mas acredito que deva ser algo bem parecido. Mas com um agravante, e sem querer polemizar aqui, quem é gay, nasce assim, não tem muito o que fazer, ele não se torna, ele, ou ela, apenas se descobrem e se assumem. Já no caso de virar ateu dentro de uma família religiosa, a coisa é um pouco diferente, é você que procura isso, você realmente se torna. A "culpa”, ou o mérito, disso é todo seu. Inclusive o estigma que isso carrega. Afinal, nunca é demais lembrar que de acordo com várias pesquisas, o grupo mais rejeitado pela população em geral é o dos ateus, ficando a frente de travestis, prostitutas, presidiários e viciados em drogas.

Mas ao mesmo tempo que a culpa pesava que nem um bloco de concreto no peito, eu começava a me dar conta do quanto essa história de religião e deus é algo frágil. Afinal, um moleque de 15 anos, inteligente sim, mas nada acima do normal, sem nenhum profundo conhecimento em física, biologia, história ou filosofia, consegue chegar sozinho  a uma argumentação que derruba ao castelo de cartas que sustenta toda essa ficção. Ai comecei a entender o motivo de tantos dogmas, o por que de buscar as respostas com uma pinça, copiando as palavras da bíblia ou de seus intérpretes. Como gosto de dizer, existem apenas três tipos de pessoas que com toda a informação que temos hoje ainda acreditam em deus. 1º Tipo - Os que infelizmente não tiveram acesso a educação formal. 2º Tipo - Os que tem acesso, mas tem preguiça ou não tem interesse de pesquisar ou pensar a respeito. E por fim, o 3º Tipo - Os que tiveram acesso, pesquisaram e das duas uma, ou estão tão infectado pela doutrina que sofreram, ou são muito burros e não conseguem entender. Me surpreende que consigam vestir as calças. Tem gente que considera um 4º tipo, os do que tem medo, ou “preferem” continuar acreditando. Esses eu considero já como ateus, no máximo agnósticos. Eles já tem a consciência, só falta a coragem.

Uma coisa eu posso afirmar, uma vez que você chega a conclusão da não existência de divindades, é IMPOSSÍVEL voltar atrás. Lembramos sempre que alegações extraordinárias necessitam de provas extraordinárias. Portanto, pai e mãe, que estão lendo isso, a chance de um dia eu voltar a acreditar é a mesma chance de existir um deus. Ou fada, ou papai noel, ou gnomos, ou o mostro de espaguete voador, ou o invisível unicórnio cor de rosa, ou do Corinthians ganhar a libertadores.

Voltando ao tema principal desse capítulo, a saída do armário para o mundo. Esse momento nunca é fácil, lembrando sempre que falo aqui de se assumir dentro de uma família religiosa, tem gente que teve a sorte de nascer em uma família secular e isso não é problema.

Lembro que o primeiro movimento que eu tive no sentido de começar a me declarar ao mundo foi um texto que escrevi para colocar no mural da sala de aula. Para contextualizar, com o intuito de estimular os alunos a pensar e a escrever, podíamos fixar textos na parede da classe, sobre qualquer tema. Mais um erro das freiras, lição número um para manter as pessoas em uma religião: NUNCA, em hipótese ALGUMA, estimule os indivíduos a pensar.

Não lembro exatamente como era esse texto, mas o título era algo como “Religião. Liberdade ou Prisão?”. Nele eu questionava se o fato de seguir uma religião nos levava a liberdade e alegria, ou apenas a uma prisão feita de dogmas e culpa. Claro que este texto não durou nem dois dias no mural. Depois disso, ainda escrevi outro ponderando se a vida eterna realmente seria algo bom, (que é um tema que ainda pretendo abordar em outro post,) após este ter sido novamente arrancado do mural, desisti de publicar meus “artigos”

Mostrei estes textos para minha mãe, ainda sem me declarar ateu, mas, tentando preparar o terreno, sentir a receptividade. Acredito que não teve um momento de sentar e falar, “sabe gente, eu não acredito nessa histórinha de deus, e bla bla bla”. Foi algo que foi sendo revelado aos poucos, com um comentário aqui, outro ali, algumas ironias e após algum tempo, algumas discussões até um tanto acaloradas, principalmente com meu pai, que não gostava de ouvir que o filho dele não acreditava no grande Juju da montanha, geralmente era finalizadas com alguma das seguintes frases. “Isso é coisa da idade, vai passar”, “Um dia você vai ver o tamanho da besteira que você esta falando”, “Você pode falar isso, mas Jesus continua te amando” e a minha preferida, “Só espero que quando você perceber, já não seja tarde demais”.

Mas a minha frase favorita foi quando depois de um destes debates, meu pai virou e falou algo na seguinte linha, “Você é muito inteligente e provavelmente vê algo que a gente não vê, mas eu vou continuar acreditando”. Não foram essas as exatas palavras, mas o contexto era esse.

Depois de já estar escancarado na família, foi mais fácil falar para os amigos da escola. Mesmo sendo visto com estranheza, não sofri preconceito nem nada parecido. Apesar de uma ou outra provocação, como chegar para a freira professora de religião e falarem, “Irmã, o Paulo Henrique não acredita em deus”, obrigado por isso Eduardo, e ter que ouvir uma dos diálogos mais bizarros de toda a minha vida: “Você acredita, no bem” “Sim”, “Então você acredita em deus, só não percebeu ainda”. WHAT???? Sim meus amigos, essa é a lógica das pessoas que acreditam em seres imaginários.

Hoje em dia, não tenho problema nenhum em me declarar ateu, mesmo quando as pessoas não me perguntam, porém já não tenho mais muita paciência para debates, estes que serão o tema do próximo post.


E se alguém quiser dividir sua história, concordar, discordar ou qualquer coisa, os comentários estão abertos para todos


Cheers

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

50% +1 - Mais da metade da vida não acreditando, e sendo muito feliz por conta disso (Parte 2)


Bom, primeiramente, se você chegou aqui e ainda não leu a Parte 1 é só clicar aqui.

Agora se você esta com curiosidade de saber como a história continua, vamos lá.

Capítulo 2 - Largando a coxinha e encarando o suco de couve

Estou agora com cerca de 14 anos, isto me coloca na 8 série, não lembro muito bem se existiu um fato específico para eu começar a ter dúvidas em relação a, primeiramente religião e depois da própria existência de um deus ou algo parecido, mas lembro que foi nesse ano, 1995 que as primeiras dúvidas surgiram.

A religião formal começou a perder um pouco o sentido, lembro que um dos motivos que me fizeram olhar com outros olhos toda essa história foi o fato de uma de minhas avós viver pulando de religião em religião, catolicismo, evangélica, espiritismo etc.

Isso me chamou a atenção, tantas crenças, todas afirmando serem a correta e com preceitos tão diferentes uma da outra. Principalmente entre católica e espiritismo. Uma acredita em reencarnação e a outra é totalmente contra.

Como pode duas religiões que seguem basicamente o mesmo deus e seu preposto, o hippe Jesus, discordar em questões tão fundamentais? E se religiões parecidas discordam tanto assim, imagine as mais diferentes. Mas imaginar não era suficiente, resolvi pesquisar.

Naquele ano Internet ainda era algo precário, discada, não existia nem o verdadeiro omnisciente Google, utilizava basicamente o Cadê? para realizar as pesquisas já que meu inglês não era la essas coisas, então tinha que me contentar com o material em português, muito limitado e com pouca qualidade.

Mas foi uma época interessante, conheci um pouco sobre budismo, islamismo, judaísmo, mitologia grega e nórdica (aqui abro um parentesês, por qual motivo essas são tratadas como mitologia? Qual a diferença entre um cara que mora no Monte Olimpo e outro que transforma água em vinho), religiões primitivas, satanismo. Resumindo, era relacionado com religião eu estava lendo. E que engraçado isso, as contradições não só entre linhas distintas, como em denominações diferentes de uma mesma religião. E não eram apenas divergências a cerca de uma ou outra interpretação, eram dogmas completamente opostos que eram as fundações das crenças. Era impossível ser um mesmo deus. O que era permitido para um, podia te levar para o inferno no outro.

Fui me aprofundando mais, afinal, queria saber qual que era o deus verdadeiro. Já pensou passar a vida inteira seguindo os mandamento de um e no final das contas, não ir para o paraíso por que comia Bacon? Duro né?

Nessa “investigação”, vamos chamar assim, uma coisa começou a ficar muito evidente, o deus verdadeiro, era o deus do local e época em que as pessoas nasciam. Então a pessoa que nasceu no império Asteca e achava ok arrancar o coração do outro para oferecer a Huitzilopochtli estava errado? E ele ia para o inferno por causa disso? Mas ninguém contou para ele a regra do jogo. Era justo isso? Comecei a achar que não.

E quanto mais pesquisava, mais encontrava semelhanças que eram praticamente cópias, e diferenças incompatíveis entre as mais diversas crenças. Algo não cheirava bem.

Paralelamente a isto, fiz a tal da crisma, não lembro muito bem dela, afinal, eu fiz por que todos os amigos fizeram, e era na escola, e tinha meninas nas classes. Mas digo que na época da cerimonia, eu já tinha quase me convertido completamente.

Mas até ai, a minha busca era para tentar descobrir o deus de verdade, ainda não me passava pela cabeça a hipótese dele não existir.

Foi quando em uma dessas navegadas no período da tarde me deparo com um site, com um nome que me chamou a atenção, Sociedade da Terra Redonda, a STR. Confesso que sempre abro um sorriso quando lembro, guardo esses primeiro contatos com a comunidade ateísta com um imenso carinho.

Não sabia que se podia não acreditar em nada. Nunca  havia convivido com nenhum ateu, tinha uma percepção que o ateísmo era uma corrente do satanismo ou coisa parecida. Até que comecei a ler os artigos, as frases, me inscrevi no grupo de e-mail, o qual participo até hoje, primeiramente, apenas como observador, depois escrevendo uma ou outra coisa, e sendo massacrado pela falta de lógica.

Uma coisa tenho que admitir, não é fácil se tornar ateu. Os ateus, e me incluo nessa, são seres um pouco arrogantes por natureza, apesar de querermos que o mundo se torne ateu, não fazemos questão nenhuma de facilitar o caminho para isso. E acho isso correto, é algo que tem que ser concluído, conquistado, não pode vir de graça. Eu gosto de fazer a seguinte comparação, a religião é a coxinha, o pão de batata, o refrigerante. É gostosa, conforta, fácil de digerir, satisfaz de uma maneira rápida, tem a complexidade de um pão de queijo. Porém, e tudo tem um porém, vira gordura, vai pra barriga, te deixa preguiçoso e no final das contas, não te dá todos os nutrientes que você precisa, apenas enche sua barriga. Já a conversão para o ateísmo é o suco de couve, a salada crua, o levantar as 5:30 da manhã para ir a academia. É dolorido, desconfortável, não tem nenhuma preocupação se você vai achar gostoso, mas te da todos os nutrientes, melhora seu coração, te deixa com um corpo legal, e vai te levar a viver um bocado. Portanto, se você que está lendo aqui não é um ateu e quer saber por que motivo somos tão orgulhosos, tente imaginar o orgulho que um cara que pesava 250 kilos teria se depois de muita dieta e exercício, sim por que nesse caso não existem plásticas nem remédios para fazer o processo ficar mais fácil, passasse a pesar 85 kg, com um corpo todo definido. Então é bem por aí.

Acho que dei uma divagada, mas vamos voltar a história.

Mesmo com todas porradas que tomava no fórum e na lista, eu resolvi continuar escrevendo e dividindo meus pensamentos, afinal esse era o meu único contato com esse mundo descrente. Mas passei a tomar alguns cuidados, o primeiro foi decorar a lista de falácia, afinal, nada pior do que ter uma argumentação desacreditada por um ad hominen ou pior um non sequitur já no primeiro parágrafo. Depois foi começar a me informar mais sobre os temas que ia dar o meu pitáco. Mas muito da racionalidade e poder argumentativo que tenho hoje se deve a esse início nem um pouco afável.

E posso dizer que chegando ao fim de 1995 eu já era ateu, mas ainda não tinha a coragem de assumir isso para o mundo nem para mim mesmo. O momento da verdade eu vou contar no próximo post, isso é se ainda tiver alguém acompanhando.

Cheers

terça-feira, 13 de setembro de 2011

50% +1 - Mais da metade da vida não acreditando, e sendo muito feliz por conta disso (Parte 1)


Esse segundo semestre de 2011 é muito importante para mim, pois passo oficialmente e ter mais de 50% da minha vida como ateu.

Sei que para muitos isso pode não significar nada, mas para mim, certamente é o fator principal que moldou todo meu pensamento, meus valores e a forma como encaro a vida. Tudo que eu sou hoje foi construído, muito com fundações no pensamento ateísta e tudo mais que ele carrega e representa.

O fato de saber que estamos aqui por nossa conta, sem nenhum amparo, e que a vida é uma só, (sem segunda chance), dá uma sensação de liberdade e responsabilidade que é impossível de se imaginar ter seguindo algum tipo de religião.

E para celebrar esse marco tão importante para mim, resolvi fazer uma retrospectiva de todas essas épocas: desde o passado religioso, as primeiras dúvidas, a pesquisa, a formação argumentativa - que levou a falar: “isso é uma besteira sem tamanho e não faz sentido” -, a culpa envolvida no primeiro momento em que se fala "não acredito em deus", o momento de assumir essa posição para a família e para o mundo, além de relembrar os primeiros livros, fóruns, debates e o engajamento.

Não sei se alguém irá ler. Mas sei que essa transição apesar de muito difícil, vale muito a pena. E sei lá, se ajudar a pelo menos a uma pessoa, já estará valendo.

Capitulo 1 - Quase um coroinha (ok também não foi para tanto)

Como grande parte da população brasileira, nasci e fui criado em uma família com religião definida, no caso, católica. Fui batizado logo após meu nascimento, estudei em um colégio católico, - Santa Marcelina, em São Paulo e minha casa sempre teve quadro de Jesus, bíblia, imagem de santa, essas coisas...

Quando menor, eu e meu irmão éramos incentivados a rezar antes de dormir, decorei o pai nosso e a ave Maria, mas confesso que o credo e salve rainha, nunca consegui.

Eventualmente íamos à missa.

Mas desde cedo, nunca gostei muito dessas coisas todas. Lembro de diversas ocasiões nas quais meu pai e meu irmão foram sozinhos à igreja enquanto eu preferia ficar em casa assistindo aos desenhos de domingo... apesar de ainda acreditar em tudo o que me estava sendo doutrinado. Apenas tinha preguiça de ir.

Na escola, tínhamos aulas de religião, nas quais eram passadas os “valorosos ensinamentos da palavra”. Porém uma coisa tenho que dar crédito ao Colégio Santa Marcelina: nunca tentaram passar o Gênesis como uma verdade e não o colocavam em pé de igualdade com a ciência de verdade. Talvez aí tenha sido o grande “erro” deles, inclusive. (Mas chegaremos nesse ponto nos próximos posts.) ;-)

Neste meio tempo fiz o catecismo e a famosa primeira comunhão, contando as aulas preparatórias. Eu tinha cerca de 11, 12 anos nessa época.

E foi ai, analisando retrospectivamente, que comecei a notar que tinha algo de muito diferente com essa tal de religião, por mais que na hora eu não tenha tido essa percepção.

Nas tarefas do curso, sempre que tinham as perguntas do livro, a professora que o ministrava, a freira (e aqui cabe um adendo, não chamo de irmã, pois, não sou irmão dela) Lúcia, sempre falava: “As repostas devem ser retiradas com pinça do livro”.

Sempre achei isso curioso, em todas as outras matérias nos era incentivado raciocinar, chegar às nossas conclusões, porém, nessa matéria, a tal da religião, a resposta deveria ser copiada letra por letra ou do livro texto, ou da da bíblia.

Mas, afinal, se é a palavra de deus, não tem sentido fazermos interpretações, conjecturas ou qualquer outra coisa, o que pode ser mais certo do que isso, não é?

E eu engoli isso, tomei como verdade na época, e o jogo seguiu.

Finalizei o curso, confessei, me preparei para o “dia mais importante da minha vida”, o dia que iria me alimentar com o corpo de Cristo.

(Uma pausa na narrativa para algumas considerações, pretendo fazer isso sempre que couber.)

Hoje vejo o tamanho da violência psicológica dessa  situação.

Imagine uma criança com seus 11, 12 anos, sendo obrigadas a caçar em sua memória atitudes que ela tenha que pedir perdão, que são um crime aos olhos de um ser que vê tudo e sabe de tudo.
Francamente, qual a grande falha de caráter que alguém com essa idade pode ter, para que seja negada a entrada no “reino dos céus” caso não se arrependa?

Além de ter que fazer toda essa reflexão, tem que dividir isso não com seus familiares, nem com sua professora, amigos, psicóloga, etc. Mas com um sujeito que você nunca viu, mas aparentemente tem o poder de pegar todos esses “erros” que você cometeu e varrer para baixo do tapete.

Voltando, após a confissão e ao canibalismo simbólico, me senti bem, fazia parte de um grupo, era maduro, tomei “minha própria decisão” de fazer entrar na família católica, podia agora entrar naquela fila que todos entravam na missa, ainda acreditava, sentia até uma certa paz quando comia a bolachinha, estava inserido.

Logo após o ato, até participei mais das missas, afinal, agora podia participar de todo o ritual. Mas logo a empolgação passou, e voltei a preferir os desenhos e as séries que passavam na Globo, como Tal Pai, Tal Filho, Herói por Acaso e Anjos da Lei.

Mas ainda acreditava, eventualmente rezava a noite, agradecia, pedia, essas coisas.

E isso foi até os 14, 15 anos, fim do 1 grau, inclusive fiz minha crisma, quando você meio que confirma que você quer mesmo participar de toda essa “família”.

Mas posso afirmar que nessa época minha fé já não era mais tão inabalável, mas isso é tema para o próximo post.


Cheers