quarta-feira, 9 de novembro de 2011

50% +1 - Mais da metade da vida não acreditando, e sendo muito feliz por conta disso (Parte 4)


Capítulo 4 - Fim (Afinal, já rendeu mais que o esperado)

Então, estou de volta, gostaria de dizer que esse tempo afastado foi por estar resolvendo assuntos importantes, encontrando a cura do câncer, encontrando o bóson de Higgs, etc.

Mas não, foi pura preguiça e procrastinação, fazer o quê né?

Como sempre, é bom lembrar que se é a primeira vez que você esta vindo aqui, você pode ver a parte 1 aqui, a 2 aqui e a 3 aqui.

Continuando, se me lembro bem, havíamos parado quando assumi meu ateísmo para a família, amigos e o mundo.

Como nunca escondi minha posição, foi natural por muitas vezes ter que esclarecer o que era ser ateu, conviver com perguntas do tipo: “Tá você não acredita em deus, mas em espírito pelo menos você acredita né?” ou “Mas nem em anjo você acredita?”, também tinha “Tá, mas quando você morrer, você não acha que tudo acaba né?” e a melhor e sempre presente “Então se você não acredita em deus, você acredita no diabo?”. É amigos e amigas, não é fácil não.

E isso invariavelmente levava ao início de um debate, porém na maioria das vezes, um debate que não leva a nada. Afinal são duas maneiras completamente diferentes de se ver o mundo e construir o raciocínio. De um lado, os fatos e análises valem mais do que a conclusão, do outro, a conclusão vale mais que os fatos e análises não existem. Porém, com 17, 18 anos, isso não importava, e eu era capaz de ficar horas debatendo, tentando mostrar as falácias, os loopings argumentativos, tendo que explicar ciência 101, não era fácil.

Mas esses primeiros embates de visões me levaram a perceber que me faltava muita base de conhecimento, para questões como de onde vem o universo, de onde viemos, como surgiu a vida, etc. E como já estava bem grandinho para aceitar respostas do tipo, “Ah, foi deus que criou”, percebi que era importante começar entrar um pouquinho no mundo das ciências, comecei a comprar alguns livros sobre os temas, assistir a documentários, consumir artigos, essas coisas. E fui cada vez mais me apaixonando, não só pelo tema, mas pela metodologia utilizada para se chegar as conclusões. Você passa a perceber que não existe resposta de graça, tudo tem que ter como base evidências conhecidas, e que se amanhã uma evidência passa a não fazer sentido, você reavalia suas premissas e chega a um novo modelo e uma nova conclusão, mesmo que isso invalide anos de trabalho e pesquisa.

Mesmo estando longe, anos luz de distância de dizer que sei sobre física, química e biologia, posso dizer que hoje tenho um entendimento maior que a média, infelizmente, afinal isso significa que a maioria não tem nem o básico.

Esse pouco conhecimento adquirido durante esse tempo fez com que cada vez mais fique insuportável entrar em debates com pessoas religiosas, a distância de argumentação é tão grande que passa a não nenhum sentido a discussão. E para não correr o risco de perder amizades e ser visto como arrogante, pretencioso e etc, há um bom tempo não entro nesse tipo de embate, que sempre acaba por me levar a tecer comentários irônicos e ver o outro lado com um pouco de decepção, e pelo bem dos relacionamentos isso não é legal. Com o tempo você aprende a sair pela tangente, a evitar confrontos diretos, percebe que é uma perda de tempo.

Hoje não me importo se a pessoa acredita ou não em alguma coisa, se quer se enganar, se precisa de conforto externo, se não se sente confortável com a ideia de que só ela é responsável por seus atos, que não existe um plano divino, que a vida é só uma, que não vai ver seus parentes e amigos em um outro plano, o problema realmente não é meu. O que me incomoda, e muito, é quando essas convicções passam a atrapalhar o cotidiano, a vida de outras pessoas.

Se uma pessoa acha que ser gay vai levar ao inferno, não seja gay e pronto. Se acredita que abortar vai garantir a danação, não aborte. Se quer viver a vida como manda uma porra de um livro, viva. Mas não exija que outras pessoas embarquem em sua fantasia e que tenham que pautar suas atitudes da mesma maneira.

Não tenho dúvida que no futuro dizer que acredita em algum tipo de deus gerará tanto espanto quanto se hoje alguém falar que acredita em gnomos, ou que o Harry Poter é real.

Mas até lá, continuamos vivendo em uma sociedade em que dizer que uma pessoa é má é equivalente a dizer a pessoa “não tem deus no coração”.

Bom é isso, sei que não foi uma grande história, mas era algo que eu queria dividir com a internet, se alguém gostou, fico feliz. Se não gostou, desculpa pelo tempo perdido.

Mas é isso aí, com certeza existem pessoas muito mais gabaritadas para falar sobre ateísmo do que eu, então se quiser garantir algumas boas horas de leitura, diferentemente das perdidas aqui nesse blog, procure começar com os cavaleiros do apocalipse, Dawkins, Hitchens, Dennett e Harris.

Cheers