sexta-feira, 8 de março de 2013

Desapaixone se!




Existem certos conceitos que de tanto serem repetidos, passamos a achar corretos, sem ao menos questionar. O de que a paixão é uma coisa boa é uma delas.

Tudo bem que a paixão tem um fator evolucionário importante, tanto que ao invés de ser algo do “coração” ou da, cof, cof, “alma”, a paixão é o efeito de uma combinação de hormônios, principalmente da endorfina, que inunda nosso cérebro e tem como principal fator nos fazer apegar a alguém em um curto espaço de tempo. O exemplo clássico disso é quando se tem um filho, evolutivamente falando, se você não aceitar e ser capaz de qualquer coisa por essa criatura no menor espaço de tempo possível, a chance dele perecer é gigantesca. Por isso, principalmente as mães, são inundadas de endorfina na hora do parto, primeiro, para aliviar um pouco a dor, e depois, para serem capazes de se relacionar e querer bem, imediatamente, aquele vetor te tanta dor e desconforto.

Outro exemplo clássico é quando encontramos o nosso parceiro, de novo, temos poucos momentos para nos “prender” àquele/a que serão responsáveis por dividir nossos genes. Óbvio que isso fazia muito mais sentido antigamente, quando ainda vivíamos felizes e contentes fugindo de leões na savana africana, mas isso foi coisa de apenas uns 100.000 anos atrás, um nada em matéria evolucionária, muito pouco tempo para perdemos esses comportamentos fisiológicos. Mas como não sou nenhum especialista no assunto, e que isso é apenas uma introdução a reflexão que eu quero propor, sugiro a quem tiver o interesse ir ao Google e procurar “Paixão + hormônios”, “Paixão + fisiologia” e “Paixão + evolução”. Tem muita coisa interessante.
Mas vamos ao real tema do texto. Muito diferente do que você lê por ai em poemas, imagens motivacionais do Facebook e em pagodes e músicas sertanejas, a paixão não legal.

A paixão se caracteriza, principalmente, por uma diminuição significativa do poder de crítica e avaliação. E isso é fácil entender sabendo das bases fisiológicas que formam a paixão. É muito mais fácil você se apegar e relacionar a algo uma vez que você não reconheça suas falhas e defeitos. Outro fator pernicioso da paixão é o sentimento de posse, claro, você passou a se apegar a alguém e não admite perder de maneira alguma. E isso leva ao lado sombrio da paixão.

É a paixão que leva pessoas “inteligentes”, “educadas” que sempre foram um “bom moço / moça”, a viverem em uma relação onde se releva abusos, agressões e onde para não perder alguém, a pessoa prefere matar. Não a toa que os chamados crimes passionais recebem um atenuante frente a legislação, pois sabe se, que foram cometidos no calor da emoção, no meio de uma inundação de substâncias químicas no cérebro do indivíduo. Em contra partida, crimes premeditados são um agravante. Por terem sido calculados, pensados, deglutidos e digeridos. Sim, a racionalidade é a antítese da paixão.

E antes que me entendam mal, e eu tenha um monte de coisas para explicar em casa, quero diferenciar aqui a paixão do amor. Na paixão, você se conecta a outra pessoa apesar, dos defeitos, afinal, você não os enxerga. No amor, você se conecta a outra pessoa, também, por causa dos defeitos. Você entende a pessoa com suas virtudes e suas falhas, entende que isso é o que a caracteriza e entende que é essa totalidade que você quer para a sua vida. O amor é o que fica quando o hormônio vai embora.

Contudo, existe um tipo de paixão que se apropria de alguns dos mecanismos da paixão entre indivíduos, abre a porta para a manipulação e infelizmente não é tão breve. Que é a paixão por ideias.

Futebol, política e religião não se discute. Uma das máximas que todo mundo engole e que me deixa mais enojado. Dizem que esses temas não se discutem pois os mesmos são movidos essencialmente pela paixão.
Como já falado, a paixão tira do indivíduo seu senso crítico. Cobre com um tapume os defeitos do objeto da paixão. Se não é possível ver as falhas de algo tangível, que esta ao seu lado, dividindo uma vida, o que dizer de ideias que são colocadas por figuras de autoridade e as quais na grande maioria dos casos não se tem acesso?

O maior perigo dessa paixão ideológica, não é o simples fato de achar que a sua é a correta. É automaticamente achar que as outras são erradas. Apenas uma ideologia movida a paixão é capaz de (e não escrevo isso para chocar, nem exagerar), trancafiar pessoas em uma câmara de gás, queimar pessoas que se entendem pro bruxas, cortar clitóris e prepúcios, se jogar dentro de um jato em um arranha céu, se amarrar com bombas e detonar las dentro de uma lanchonete, colocar indivíduos em um navio, comercializa los, torturar por ter pensamentos diferentes a respeito do bens e capitais, agredir com uma lâmpada fluorescente no meio de uma avenida, se preocupar se essas pessoas podem ou não podem se casar, relevar se estes roubam pois os outros também roubam, achar que sempre seu time perdeu pois o juiz roubou e não por que o outro time era melhor, ver apenas os acertos dos seus e os erros dos outros.

Tudo isso meus caros e caras, é fruto da paixão.

Dizem que sem paixão a vida não é completa. Mentira! Com paixão, você vê apenas um lado dela.

Mas muitos podem dizer, “mas a paixão é o motor para se alcançar feitos difíceis”, ou algo do gênero. Pode até ser, mas definitivamente não é a melhor motivação. É a mesma coisa de dizermos que você pode ficar rico trabalhando, ou roubando um banco. Nos dois casos, efetivamente você pode ficar rico.

Quando se deixa guiar exclusivamente pela paixão, você encontra maneira para justificar caminhos não tão corretos, atalhos éticos e morais. Apenas analisando e tratando os ideais da forma mais racional possível é que se pode chegar a um objetivo, tendo total consciência e todas suas implicações.

A internet é um teatro propicio a receber os discursos mais apaixonados possíveis, procure qualquer tema, qualquer tema, do mais ou menos polêmico, do de maior ao de menor relevância, e encontrará defesas apaixonadas para todos os pontos de vista possível.

Mas, o/a caro/a leitor/a pode estar pensando, “que ironia, um discurso apaixonado contra a paixão”. Pode até parecer, se bem que não faz muito sentido, semanticamente falando. Porém para deixar claro, entendo todas as vantagens e desvantagens de se ver a vida da maneira mais racional possível. Apesar de entender que no longo prazo é a melhor e mais saudável maneira de se encarar a vida. Entendo também seus pontos negativos, por exemplo, é difícil, é chato, você acaba por ter dificuldades para entender as emoções das outras pessoas, passa a não ter uma relação diferente com seus sentimentos, tem menos frio na barriga, questiona essa busca incessante pela felicidade, enfim, poderia listar páginas de fatores não tão bacanas da vida pela racionalidade e procurar encarar tudo com uma abordagem e métodos mais científicos. Mas como escrevi lá no começo, essa é a diferença de paixão e amor. Entendo todos os contra tempos, mas ainda é o penso fazer mais sentido para ter na minha vida.

Por isso, desapaixone se, desapegue de ideologias, de verdades enlatadas. Tire suas próprias conclusões, encontre suas verdades, e mude as, a partir do momento que apresentarem novos fatos que vão contra.
Por isso sou fã do método científico, pois até o mais “enamorado” a uma tese, a uma ideia, será o primeiro a larga la no primeiro momento que a mesma for desprovada.

Sonho com o dia em que algum fanático, seja lá do que for, largue suas convicções por elas terem sido provadas erradas. Porém, entramos em um ciclo retórico, afinal, para isso acontecer, é necessário que se veja o lado contrário um agente que pode ter informações relevantes.

Duvide de quem te fornece verdades absolutas, as verdade transitórias são mais confiáveis. Se uma verdade baseada em fatos e não em ideias esta ai por um bom tempo, a chance de estar aí pelo simples fato de ainda não ter sido desprovada, tem muito mais valor.

Desapaixone se, pense, critique tudo e todos.

Apenas o ceticismo te libertará.

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