sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Papai Noel e os sinalizadores de Santa Maria e Oruro



O que Papai Noel tem a ver com os sinalizadores em Santa Maria e Oruro? Além de seu um título para chamar a atenção para este texto, ao meu ver tudo. Vou explicar.

Vivemos em uma sociedade baseada no medo de punição. Somos criados com uma mentalidade não de fazer o bem, e sim a de não fazermos o mal. E esse não fazer o mal, também não vem acompanhado de um embasamento ético, ele vem em companhia do medo de punição. Acho que todos somos familiarizados com as frases “Se comporte se não o Homem do Saco vai te pegar”, “Papai Noel não traz presente para criança mal criada”, “Se não comer tudo não vai ganhar ovo de chocolate do Coelhinho da Páscoa”, “Se você roubar, vai para o inferno”, “Presta atenção que matar da cadeia” e muitas outras, em todas as suas variações.

Esse tipo de repressão pode até surtir efeito na hora, mas ela tem um preço. Uma sociedade que deixa a responsabilidade da punição sempre a um agente terceiro. Aprende se a se manter na linha única e exclusivamente por medo da punição. Junte se a isto um estado fraco em termos de justiça e temos aqui a sociedade em que vivemos.

Afinal o que esperar de uma pessoa que cresce sobre essas bases, quando começa a perceber que Papai Noel não existe, nem Homem do Saco, nem Coelhinho da Páscoa, que se confessar e pedir perdão te livra do inferno, (precisei me controlar muito para não falar “nem Deus”, mas hoje o tema não é esse, mas apenas para informação geral à nação, não existe nem inferno, nem punição divina, e óbvio, nem deus. J )e que é muito difícil ser preso, e quando é, acaba por ser muito fácil sair?

Acabamos por ter uma sociedade cada vez mais permissiva, na qual a impunidade vira uma cultura e o fato de assumir responsabilidade de seus atos uma figura muito mais teórica do que prática. A quantidade de leis, de instâncias e brechas facilitam tudo isso.

E acaba por ser um ciclo vicioso, como visto aprendemos desde cedo a reprender o mal comportamento por meio de ameaças, então quando a situação fica complicada, qual a tendência? Criar mais leis, mais ameaças. E o que isso gera? Mais leis que não são cumpridas, maior sentimento de impunidade, novos problemas, novas leis para resolver esses problemas, e por ai vai.

Posto isto, vamos ao título deste texto, como relacionar o fato de acreditar em Papai Noel e ascender um sinalizador dentro de uma boate fechada ou atirar com um sinalizador marítimo contra uma torcida adversária? Simples, essas pessoas são idiotas. Não tenho dúvida que nem um nem o outro não tiveram a intenção de matar ou ferir ninguém. Na cabeça deles o fato de não poder utilizar tais artefatos era apenas mais uma lei, mais uma norma que estão ai para não serem respeitadas.

Vivemos em uma sociedade que entrega de bandeja o que podemos e o que não podemos fazer, e que nos ensina que geralmente o que não podemos fazer, não tem nenhuma consequência quando é feito. Não se incentiva a pensar o motivo pelo que não pode ser feito.
Então na cabeça desses elementos, falta uma parte importante na ferramenta de raciocínio, aquela parte que faz você parar por um momento e analisar, quais as implicações desse ato? Passa então ser natural acionar um artefato sendo que o único motivo que o impediria, é uma lei cujo seu desrespeito não se transformará em nenhuma punição.

Ok, o problema foi exposto, o que fazer então para resolver? Infelizmente o que a resposta tem de simples, tem de desanimadora. Bastaria a curto prazo fazer as leis funcionarem efetivamente, punir do mais banal ao mais grave incidente. E a longo prazo, mudar a cultura de como as crianças são educadas, tirando essas ameaças vazias do dia a dia, e ensinando a calcular causa e consequência, hipótese, tese e conclusão. Com isso garanto para vocês que uma pessoa não vai pegar em um carro bêbado, não pelo motivo de ser proibido, mas vai estar construído na mente do indivíduo a seguinte relação: bebida diminui os reflexos, o tempo de raciocínio e o poder de julgamento, dirigir é uma atividade que envolve reflexos, raciocínio e decisões, logo bebida e volante não combinam.

Existe uma expressão em inglês, a qual eu adoro, que é a seguinte: Be good for goodness sake, que traduzida ficaria algo como “seja bom pelo amor ao bem”, ou algo do gênero. Ela que nos faz fazer algo de uma maneira certa e ética quando não tem ninguém olhando, ou quando não tem punição envolvida. E sei que é uma utopia minha esperar viver um dia em uma sociedade que viva com base nisso. Ainda mais quando vejo pessoas que tiveram todas as oportunidades do mundo para aprender a ter este tipo de mentalidade, utilizando twitter para fugir de lei seca, dando jeitinho em imposto de renda, fazendo “gato-net” afinal, se os outros fazem, levam vantagem e não são punidos, por que motivo eu tenho que me sujeitar a seguir na linha. Porém, esses são os mesmos que quando da uma merda em uma festa de estudantes, EXIGEM que todos sejam presos, até o médico que fez o parto do dono da boate. E o que me assusta, e me assusta muito, é que eles não são capazes de fazer uma relação entre os próprios atos e as tragédias dos terceiros.

Um comentário:

camiseta disse...

Adorei a dica,compartilhando aqui!! Forte abraço Willian camiseta