Em debates e discussões, tanto no mundo real como na internet, independente do tema, sempre encontraremos, e o que assusta é que cada vez com mais freqüência, os relativistas absolutos, principalmente quando o assunto é ética, ideologia ou religião. O que humildemente procurarei demonstrar em algumas linhas, é que o relativismo não é uma posição honesta, e por muitas vezes é uma saída das mais covardes.
O relativismo, não o relativismo absoluto, cabe e muito bem em discussões éticas e morais, mas principalmente em retrospectiva, pois as posições consideradas ética e moralmente válidas em períodos anteriores, sempre foram concebidas dentro de “verdades” estabelecidas pelo Zeitgeist da época. Por exemplo, na antiguidade era ética e moralmente aceita a posse e comercialização de escravos, a escravidão era compatível com o modo de vida e a moral da sociedade. Eles tinham justificativas, e tanto quem escravizava, como quem era escravizado não enxergavam dilemas éticos nisto. Porém hoje a escravidão é condenável por praticamente todas as sociedades modernas, contudo não podemos taxar como seres desprovidos de ética e moral todas as sociedades antigas que praticavam este ato, eles estavam inseridos em outra cultura, tinham outro valores, outras realidades. Não me estenderei na analise da escravidão na antiguidade pois existe farta bibliografia sobre o assunto e não é este o cerne da questão que proponho discutir, quero apenas demonstrar com este exemplo que embora retrospectivamente o conceito de certo e errado, moral e imoral, é sim, relativo, o código ético de uma sociedade é regido pelas verdades e diretrizes consolidadas dentro de uma realidade estabelecida dentro do entendimento de mundo de uma determinada época.
O grande erro dos relativistas é querer utilizar o argumento de que as verdades podem mudar com o decorrer do tempo, para fazer disto o fundamento de todos seus parâmetros para o entendimento do mundo em que vivem. Esquecem que o convívio em sociedade, o senso comum, as leis e a realidade da época, tanto nos permite, como exige que tracemos limites, que tomemos posições, que estabeleçamos normas e códigos. Mesmo que num futuro, seja definido que estas “verdades” não passam de mentiras infundadas e má entendimento da dinâmica e comportamento da época. Não vêem que esta mudança de entendimento, de visão vem com imposição de culturas, descobertas cientificas, enfim, com a evolução dos conceitos.
Gostaria de abrir um parênteses aqui apenas para lembrar que evolução não significa melhora, que isto fique bem entendido, evolução significa apenas a mudança de algo, pode ser um conceito, uma idéia, uma moral, um ser vivo, no decorrer do tempo, no qual pequenos aspectos são modificados até que em um determinado ponto não mais se identifica com a origem. Por exemplo a visão Greco Romana do homossexualismo era muito mais ética, para os padrões modernos, do que a visão da Idade Média, porém a visão medieval é uma evolução da visão clássica.
O relativista falha ao não enxergar que dentro de um contexto definido num espaço e tempo, dentro de um determinado entendimento presente do mundo e das relações humanas, é possível estabelecer normas e paradigmas que norteiem a ética e a moral, mesmo que sabidamente, estes possam ser alterados no curso da história. Os fundamentos podem ser relativos ao analisar a história como um todo, porém eles são absolutos dentro de períodos e locais específicos.
O grande pecado do relativismo é transportar esta filosofia para assuntos nos quais ela cabe, como, principalmente, a ciência. Pregam que a ciência está em constante mudança, portanto não se pode levar em conta o que ela afirma, pois um dia isto pode mudar.
Um erro muito cometido, sobretudo pelas pessoas que não estão familiarizadas com o método cientifico e a confusão entre o ceticismo e o relativismo. Uma coisa é ter uma visão cética da própria ciência, na qual uma teoria é verdadeira apenas até o ponto em que aparece uma outra com uma explicação melhor. Para um relativista, a simples hipótese que num futuro possa aparecer alguma outra explicação, já é motivo suficiente para que uma teoria já seja descartada. Veja bem, o que o relativista põe em questão não é a teoria em si, mas o método científico, e faz isso sem propor um outro método sólido. O relativista não põe em dúvida os dados colhidos pela observação, ele põe em dúvida a observação.
Contudo, relativista é relativista até a página 4, invariavelmente um relativista já possui um ponto de vista absoluto e por não ser provado ou aceito, acaba atacando o método para poder justificar sua crença. O relativista vive de dogmas, por mais antagônico que seja. Vamos a um exemplo: Uma pessoa afirma que existe uma força maior, (pode substituir por deus, energia, o que você preferir), que rege o universo. Um cético afirma que até o presente momento não existe a menor evidência que isto exista, nenhum dado ou previsão apontam para isto e até o presente momento a existência de tal força não aparenta ser necessária, portanto não tem sentido prático assumirmos como plausível esta existência. O relativista contra argumentará que antigamente os cientistas da época consideravam o universo como estático e a terra como redonda, e como a ciência constantemente, não se pode descartar a existência de tal força.
Vamos analisar os argumentos, o relativista alega que não da para confiar na ciência, pois como tudo, ela é passível de mudança, e como já existiram “verdades cientificamente comprovadas” que foram derrubadas, não se pode acreditar na ciência e esperar que ela nos traga o que é o real. Porém reparem que isto só é válido pois a ciência formal desconsidera o dogma que ele acredita, se amanhã for provado que realmente existe tal força, ele virará e falará, - Ta vendo? Eu falei que era real. Percebe a incoerência? A partir do momento que a ciência prova que sua afirmação é verdadeira a ciência é válida e será usada como confirmação de seus argumentos, enquanto ela não provar a ciência não pode ser confiável pois esta sujeita a revisões ao longo da história.
Já o cético, se um dia aparecerem dados e indicações que apontem para a existência de tal força, por coerência ao pensamento cientifico irá aceita-las como verdadeiras e reformular todas as bases das teorias para que este novo aspecto se encaixe, sem dor, sem trauma, apenas sendo fiel ao método.
A diferença básica é que o relativista não possui um método para se chegar ao conhecimento, o relativista procura absolutos perenes, que nunca serão alcançados, pois ele busca provas de negação e da valores iguais para probabilidades infinitamente diferentes. Já o cético é fiel ao método, para ele não importa o que os dados irão apontar, importa apenas que o raciocínio seja lógico e fundamentado, e a partir daí, tomará como verdade os resultados.
Voltando ao princípio do texto, considero então o relativismo como covarde, pois é apenas uma maneira de se mascarar dogmas, superstições ou ideologias, ou na melhor das hipóteses uma justificativa para não tomar opinião e ficar em cima do muro, é um esconderijo de fácil acesso para aqueles que não têm argumentos para defender suas idéias. E é cínico também a partir do momento que exige da ciência provas ao mesmo tempo em que a desmerece, e não oferece uma contra partida, jogando seus argumentos ao ar incumbindo o ônus da prova a quem não concorde deles. Se escondendo atrás de perguntas como, - E quem te garante que isto é o certo? Sendo que ao mesmo tempo em que exige a prova, e a refuta se esta não for do seu agrado. Como foi sugerido por um colega, a melhor maneira de tratar um relativista absoluto é mandar-lo toar no cu, e quando este se indignar pergunte:
- E quem te garante que isto não foi um elogio?
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