terça-feira, 8 de março de 2016

Dizem que o outro é quem esta errado. Não poderiam estar mais corretos

Mais interessante do que os últimos acontecimentos no cenário político nacional, são seus desdobramentos, principalmente no que se refere ao impacto na opinião pública. Nada surpreendente, dado o grau de deseducação e ao sistêmico desencorajamento ao pensamento crítico que permeiam nossa sociedade. Fatores que criam terreno perfeito para o florescimento do chamado “FlaFlu” político no qual vivemos. Divisão que ocorre não por conta das ideologias de cada lado, e sim pelo simples antagonismo ao outro.

Não gosto de me ater a rótulos, mas em nome da fluência e entendimento do texto, utilizarei aqueles que mais estão em voga, mas gostaria de deixar claro que entendo que os fatores são muito mais complexos que uma questão de “Esquerda X Direita”, “Coxinhas X Mortadelas”.

Cada lado diz que o outro é míope e manipulado. Não poderiam estar mais corretos. Esse dualismo imposto e encorajado pelas lideranças de ambos os lados, interessa apenas a eles, pois estende-se uma cortina ideológica em frente à massa, impedindo o acesso ao que realmente importa.

Dizem que cada um dos representantes do outro lado, apenas governam em causa própria, preocupados apenas com seu plano de poder. Assusta-me a surpresa e indignação. Espanta me quem acredita que política é movida por sentimentos nobres e preocupação genuína com a população. De Maquiavel a Bourdieu, não são poucos os pensadores que já se debruçaram sobre o tema. O bem-estar da população se dará se, e somente se, o mesmo colaborar com os objetivos pessoais dos detentores do poder. Esquerda ou direita são apenas as estratégias utilizadas, o plano de jogo escolhido para se manter a frente no placar por mais tempo possível.

Tanto um quanto o outro trocam benefícios em determinadas áreas por sua liberdade em outras. Grupos mais à esquerda, nos vendem programas sociais e serviços públicos em troca da liberdade econômica. Setores alinhados mais à direita já nos agraciam com um maior controle de nosso dinheiro em troca de cerceamento às liberdades individuais. Resumindo, tudo se resume a uma escolha do que você está disposto a abrir mão. Apenas para constar, não posso deixar de mencionar os regimes totalitários, pode se dizer o que quiser quanto a eles, mas pelo menos, são os mais sinceros, não travestem seus objetivos como um projeto de país. Deixam bem claro que o projeto é de poder. Não se iluda, sem pressões externas, levando em conta apenas sua vontade, qualquer grupo no poder agiria da mesma forma. Sendo livre a escolha e não havendo maiores repercussões, a mão de ferro sempre empunharia o cetro.

Encarar isso de maneira realista é difícil para o ser humano, ninguém gosta de se sentir apenas uma peça em um tabuleiro, muito menos, chegar à conclusão que não somos nem sequer as peças, nós somos o tabuleiro. Nós queremos nos sentir importantes, nos sentir participantes do “processo democrático”. Acredito que tenhamos que ser mais realistas, o jogo é esse, não há o que possamos fazer que mude isso, o importante é termos essa consciência, e tentar tirar o melhor proveito dela. As mudanças só ocorrem por que chegou a hora de um grupo tomar o lugar de outro, esse é o ciclo. Como esse é o ciclo em todas as organizações que existem, família, trabalho, esporte, etc. A única diferença é que esta acaba por influenciar e muito a nossa vida, porém, para quem joga o jogo, é um jogo como outro qualquer.

A falta de uma visão mais realista leva à presente situação: pessoas defendendo indivíduos como Lula, Aécio, Bolsonaro, FHC, etc. Todos jogadores muito hábeis e competentes, porém, pessoas que se preocupam tanto com você, como atletas de futebol que se preocupam com os torcedores organizados. Mas tão habilidosos que conseguiram construir uma imagem muito mais pautada na aversão aos opostos do que nas qualidades próprias. Questione-se por um minuto, você gosta do Lula pois compartilha seus valores, ou por que ele representa o contraponto de um Aécio? Mesma coisa dos que chamam Bolsonaro de mito, é por conta de sua visão de mundo, ou por ser um Anti-Dilma.
A partir desta reflexão, fica claro o quanto, independente do lado, favorecemos a perpetuação do sistema. Aviso de antemão não surgirão mudanças profundas, as mudanças serão apenas as necessárias para que um novo grupo se estabeleça no poder.

Antes que me chamem de uma pessoa em cima do muro, vou reservar umas linhas para o que acredito que seria a melhor maneira de sociedade. Sou um adepto da corrente do libertarianismo, não confundir com liberalismo. Uma corrente que prega a profunda liberdade pessoal, tanto na economia quanto no social. Acredita que não cabe ao estado definir o que é melhor para sua vida, e que as pessoas devem arcar com a consequência de seus atos. Ao estado, cabe garantir que as pessoas possam exercer suas liberdades individuais sem intrometer na liberdade do outro. Por exemplo, você quer ser racista? Você tem total direito de ser, PORÉM, não tem o MENOR direito de interferir na vida de qualquer pessoa. Quer odiar ateus? Falar que vou queimar no inferno, inclusive na minha cara? Você tem total direito, mas não tem nenhum direito de impedir que eu trabalhe, que eu expresse minhas opiniões, etc.

Entendo que esse modelo é completamente inviável, uma vez que não cabe muito com projetos de poder. E que também para uma implementação efetiva teria que se reconhecer que para uma grande parcela da população, não se teria muito o que fazer a não ser uma política de contenção de danos, e que todos os esforços, deveriam ser direcionados para gerações futuras. Mas apesar de ter total ciência de que isso não seria praticável, ter essa visão ajuda a pelo menos, não ser ludibriado, o que já é uma grande coisa.

Para finalizar, antes que deixem as paixões falarem mais alto, não levem essa disputa tão a sério a ponto de colocarem em risco amizades. Os detentores do poder, com certeza não te levam tão a sério. E como diz um post que está circulando pela rede, “Se for para terminar a amizade com alguém, seja por que ele gosta de Jota Quest”.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Político, mas nem tanto.




Seria o maior movimento político do Brasil dos últimos tempos, muito menos político do que parece?

Vou tentar explicar aqui, pelo menos de acordo com minha visão, o motivo que o movimento tomou essa proporção, muito menos nobres do que a maioria gostaria, os esperados episódios de vandalismo e os possíveis reflexos. Em um primeiro lugar, tentarei explicar o movimento em si, e por final algumas observações de ordem sociológica. Vamos lá:




1 - Como esses movimentos tomam corpo?

Podemos dividir em dois momentos; a formação da massa crítica e a viralização.

Uma forma simples de entendermos como se da a formação da massa crítica do movimento, é recorrermos ao Modelo de Granovettor, para quem não conhece, vou tentar explicar. Pegamos um grupo de 10 amigos. Por serem amigos, podemos inferir que eles tem afinidade em inúmeros aspectos, em maior ou menor grau, mas se fosse incompatíveis, não seriam amigo. Agora supomos que eles estejam tentando definir qual será o local que irão em um sábado a noite. Temos então o elemento A, que é fã de sertanejo universitário e o elemento J que não suporta o gênero, os outros possuem diversos graus de preferência pelo gênero.

No momento de se definir o destino temos essa situação A diz que irá à festa sertaneja, independente de qualquer coisa, B e C gostam da música e se contentam ir desde que alguém mais vá, D e E vão se pelo menos outras duas pessoas forem, F vai se metade for, G, H e I, vão onde a maioria for e J só vai no sertanejo se todo mundo for. Traduzindo em números, temos as seguintes condições dos individuais para irem à festa:

A (0), B (1), C (1), D (2), E (2), F (5), G (6), H (6), I (6), J (9)

Para ser mais simples neste exemplo, trabalharei apenas com a variável de quantidade de pessoas do grupo, independente de preferências e afinidades entre os elementos. Portanto fica fácil enxergarmos como apenas com o movimento de A, temos toda a turma indo à tal balada.

Tendo este modelo em mente, começa a ficar mais claro como a massa que inicia um movimento se forma. Um grupo de um movimento, como o MPL, propõe uma passaeta. Dentro deste grupo existem os que tomam à frente, (traduzindo para termos mais modernos, innovators), os que não precisam de muito para se unir, (early adopters) e o grosso do movimento (early majority). Então quando menos se espera, já temos umas 500 a 1.000 pessoas na rua. Dependendo do tamanho e da capilaridade do movimento.

Grupos mais radicais, tende a ficar neste estágio, pois não possuem muita capilaridade, pois os elementos não costumam transitar por outros, diminuindo assim o efeito de contágio do movimento.

Ok, mas como saímos de um movimento de 1.000 pessoas para um de mais de 1M, atingindo pessoas que não tem contato algum com o movimento original?

Para tentar explicar isso, temos que apelar para um outro modelo, um pouco mais complexo, que podemos chamar do Modelo do Aplauso em Pé. O que este modelo nos diz?

Imagine um teatro, o que leva o público a se levantar e aplaudir o espetáculo? Aqui temos alguns fatores, primeiramente, todos nós temos uma escala na qual classificamos o espetáculo, e temos o que consideramos como um espetáculo perfeito. Dentro desta escala, nós temos um limite, então, para estarmos dispostos a levantar e aplaudir em pé, digamos então que sua predisposição para o aplauso aumente linearmente de acordo com o nível do espetáculo. Então, temos aqui a seguinte situação, se o espetáculo atingir 100% no seu grau de satisfação, você se levanta e aplaude, se ele atingir 0%, você não se levanta de maneira alguma. Dentro deste espectro, você esta disposto a levantar desde que outras condições aconteçam.

Podemos ter aqui, a % de pessoas que se levantam, então podemos ter a situação de que se o espetáculo tiver um nível de satisfação de 70% e 40% das pessoas se levantarem, você se levanta também. Ou você identifica um famoso crítico de teatro nas primeiras fileiras, como supostamente ele é um entendido no assunto, se para você o espetáculo atingir 50% de satisfação e o crítico levantar (fator celebridade), você vai na onda. Geralmente vamos a este tipo de evento acompanhados, então, se temos 30% de qualidade mas alguém de seu grupo levantar, você também levanta.

E podemos ter inúmeras combinações entre os fatores que podem colaborar para o fato da peça ser ovacionada.

Além desses fatores específicos, temos o elemento do fator de ruído. Digamos que você pegou muito trânsito, esta mal humorado, etc. Isso pode fazer com que você seja mais rigoroso que o habitual na sua avaliação e uma peça nível 70% seja vista por você como uma 50%, ou o contrário, você esta de bom humor e isso faz ser mais generoso em sua avaliação. Traduzindo isso em números podemos chegar a uma equação para o seu aplauso em pé, que seria a seguinte:

(Qx(R/100))+P+C+A=L

Onde temos:

Q - Qualidade da peça
R - Ruído
P - Público
C - Celebridade
A - Amigos
L - Levantar

Se L for maior que 5 levantamos, menor que 5 não levantamos.

Agora vamos utilizar esse modelo para tentar entender estas manifestações.

Todos nós temos alguns fatores que fariam irmos para a rua, em um primeiro momento, como explicado acima, o grupo do MPL tinha um objetivo específico, dentro de um grupo fechado, e isto levou um número limitado de pessoas a se manifestar, os que enxergavam como suficiente para protestar o preço da passagem. E isso ficaria assim limitado caso não houvesse o episódio do confronto com a polícia, no qual manifestantes e jornalistas foram atacados gratuitamente pela polícia. Uma vez isto ocorrido, foi acrescentado uma nova causa ao movimento, esta uma muito mais atraente, a revolta contra a repressão do estado. Isso satisfez a condição primária de muitas outras pessoas a entrarem no movimento. Agregue se a isto o fato de celebridades, tanto no contexto como se utiliza normalmente, como no contexto em grupo, sendo a celebridade do grupo, no caso, aquele indivíduo mais politizado, aderirem ao movimento. Isso leva mais gente às ruas, satisfazendo assim mais condições para levar mais gente às ruas. Por conta de uma falta de liderança mais presente, estes novos entrantes, acabam por trazer novos temas, que passam a atrair mais pessoas. Temos aqui um efeito bola de neve e crescimento exponencial do movimento. Isso explica como em pouco tempo partimos de um número limitado para uma massa gigantesca.

Porém, isso leva a uma satisfação de critérios que começam a passar longe do simples aspecto político, já que inúmeros outros fatores colaboram para chegar ao limite necessário para se ir para a rua. Temos aqui pessoas que vão por que os amigos foram, por que celebridades influenciaram, por que um monte de gente foi, quer ir pelo efeito check in, etc, etc etc.

Pela heterogeniedade do movimento, este acaba por atrair todos tipos de grupos. Lembrando da curva normal, fica fácil vermos que a grande maioria do público, tem um aspecto mais neutro no que se refere a visão política, praticamente 90% do movimento é de visão de centro com leve ou moderada tendência à esquerda ou direita. Porém isso não descarta a presença de grupos com diversos níveis de radicalismo, tanto da direita como da esquerda.

Esses modelos também auxiliam a explicar a razão dos atos de vandalismo. Temos um contingente reduzido de pessoas predispostas à depredação. Porém, uma vez que estes iniciam, acabam atraindo outros que tem seus requisitos para o ato atingindo, e isso também começa a viralizar.

Acredito que consegui demostrar um pouco os mecanismos que disparam uma movimentação de massa como a que estamos vivendo, e como a este movimento tem muito menos viés político do que esperamos e gostaríamos.


2 - Um barril de pólvora prestes a estourar.

Como falei, na abertura do texto, vou tentar dar uma opinião sobre o aspecto sociológico do movimento. Uma vez explicada como a mecânica funciona, resta tentarmos entender quais os fatores que contribuíram para que as condições de viralização fossem tão rapidamente atingidas.

Vivemos um momento de saturação do modelo político vigente. Uma constante decepção para com os políticos e partidos que escolhemos para nos representar. Vemos ideologias sendo utilizadas apenas para se chegar ao poder, e logo descartadas em nome da famosa governabilidade. Inimigos históricos se unindo por tempo na televisão e cargos. E isso já vem de tempo. Não é privilégio de PT, PSDB, PMDB entre outros. Isso colaborou para um afastamento da política de grande parte da população. Em um primeiro momento, quando ainda tinhamos hiperinflação, as pessoas estavam preocupadas em vender o almoço para comprar a janta. Não havia tempo de pensar em política. Lembram da pirâmide de Maslow? Difícil ter outras preocupações quando as necessidades básicas não são atendidas. Após isto, tivemos a estabilização da moeda e um novo cenário, o dinheiro não perdia valor do dia para a noite. O país começou a apresentar ambiente de confiança para planejamentos de médio e longo prazo, isto criou uma perspectiva de mobilidade social, mas em um primeiro momento, ficou apenas nisso na perspectiva. Veio o governo Lula, e com isso um boom no consumo, apoiado por um momento global de prosperidade. Muitas pessoas subiram de classe, empregos foram gerados, houve uma melhora evidente na qualidade de vida de uma grande parcela da população.

Isso formou uma geração, esta que esta na rua, que cresceram tendo suas necessidades básicas atendidas. Longe de ser da maneira ideal, mas de modo muito superior a do final dos anos 80, começo dos 90.

Essa parcela da população passou a querer mais coisas. A presença da internet contribuiu em muito com isso. Passaram a ter contato com outras realidade mundo a fora, e seus níveis de exigência passaram a se elevar. E uma vez não atendidos, o descontentamento foi fomentado.

Alguns fatos, se analisados sob a ótica correta nos ajudam a entender o estopim. Nas últimas eleições, tivemos entre abstenções e votos brancos e nulos, uma porcentagem superior a 20%, até aí, tudo bem. Mas se formos tentar entender quem foram estes que deixaram de votar, vamos nos deparar com uma quantidade superior a ¾ de pessoas entre 16 e 25 anos (números do Datafolha). Exatamente essa grande massa que iniciou o movimento dos protestos. Era um claro sinal que algo não estava bem, e que o modelo atual, não conseguia despertar engajamento nesta parcela tão importante, e de tão fácil mobilização.

Esta saturação fez com que os limites necessários para explodir fossem cada vez menores, criando o potencial para o estado de protesto, dando no que deu.


3 - Você é meramente adaptado à Internet. Já eu, nasci nela.


Chega a ser engraçado ver alguns comentários de alguns especialistas, tentando entender os movimentos, importância e impacto da Internet nos movimentos.

Parafraseando Bane, no filme do Batman: “Você é meramente adaptado à Internet. Já eu, nasci nela”.

Podemos comparar a Internet a uma arma. Como os defensores do armamento dizem; “Arma não mata pessoas, pessoas matam pessoas”. A Internet em si não faz nada, ela é apenas uma ferramenta. Ela proporciona que idéias, conhecimentos, opiniões, das mais sensatas as mais absurdas, se espalhem, atingindo os mais diversos públicos. Uma coisa que podemos ter certeza é que, por mais fora de qualquer noção uma idéia possa ser, ela irá encontrar seu público. Isso possibilita que qualquer um possa ser gerador e consumidor de conteúdo a um custo virtualmente 0. Por exemplo, você, uma das 5 pessoas que esta lendo este texto, esta consumindo um conteúdo que eu gerei, e de alguma maneira, isto irá te impactar.

Saímos da sociedade de Andy Warhal, na qual todos teríamos 15 minutos de fama, para uma sociedade na qual todos serão famosos para 15 pessoas. Isso significa que todos temos uma capacidade potencial de influenciar N pessoas. E pela caracteristica orgânica da rede, um texto ou vídeo despretensioso pode fomentar um movimento muito maior. E isso pode colaborar, sendo mais um elemento na equação lá de cima, que nos faz sair às ruas.

Outro fator, a Internet propicia uma facilidade em se agregar pessoas com as mesmas ideias, eliminando o fator geográfico da equação. Então, não necessariamente você precisa de 1.000 pessoas nas ruas da sua cidade para se unir ao movimento. 10.000 pessoas do outro lado do Brasil passam a satisfazer esta condição.



4 - Como ficamos e para onde vamos?


Depois de todos os acontecimentos, chego a algumas conclusões.

Primeira, ficou óbvio que tem muita coisa errada por aí e as pessoas de uma maneira geral, estão de saco cheio.

Segunda, tal qual um pai que compra doce para o filho depois que este esperneia no supermercado, o governo a recuar o preço da passagem demostrou que sim, pode ser movido por pressão.

Terceira, mesmo o movimento sendo bem menos politizado do que parece, trouxe a política de volta às conversas da população, e agora sabendo de sua força como coletivo, o povo tende a ser mais atento a estas questões.

Quarta, radicalismos de ambas as partes são esperados, e o que me espanta é a quantidade de gente espantada com isso. Não se preocupe, estamos longe de um ambiente de golpe.

Quita, o ataque à mídia tradicional nos mostra que o fato de todos gerarem e consumirem contudo dos mais diversos tipo, faz com que não se aceite mais que tentem enfiar verdades goela abaixo. E assim como na esfera política, os controladores das mídias terão que se reinventar para atingir essa parcela mais jovem da população.

Sexta, não se pode subestimar, nem super estimar o poder de uma foto no Instagem, um vídeo no Youtube ou um post no Facebook.

Sétima e última, movimentos genéricos são mais prováveis de atingir uma grande adesão, porém menos efetivos praticamente, mas acabam gerando ambiente para outros mais organizados proliferarem.



Bom é isso, sei que o texto foi longo, então se você chegou até aqui, meu muito obrigado, os comentários estão aí para concordar ou discordar. E se gostou e quiser compartilhar, eu fico muito agradecido.

Até a próxima.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Feliciano é a prova que estamos caminhando para o destino certo


OK, admito, o título foi um pouco para captar audiência sim, mas não deixa de ser verdade essa afirmação, pelo menos segundo ao ponto de vista que irei expressar logo abaixo, então vamos à explicação.

É muito complicado exigirmos que no meio do caos a pessoa de uns passos para trás e avalie e real dimensão das coisas. E por sermos profundamente imediatistas, ficamos cegos para às tendências e perdemos a oportunidade de visualizar para que caminho os acontecimentos estão nos levando.

Digo isso pois depois de uma reflexão sobre ás crescentes manifestações conservadoras, principalmente vindas de líderes religiosos.

É de fácil constatação que cada vez mais e com uma velocidade cada vez maior, a religião vem perdendo seu espaço. Tanto pela tendência do crescimento da parcela ateísta da população, muito por conta deles agora começarem a se sentir mais a vontade em declarar sua não crença, como, e aqui acho que vale uma atenção especial, à parcela da população que se diz possuir religião mas cada vez mais diminui sua importância nas suas ações do dia a dia. Para quem tiver curiosidade, segue aqui alguns dados do Gallup de 2009 (http://en.wikipedia.org/wiki/Importance_of_religion_by_country).

Muito disso se da pelo fato de como os alicerces das religiões foram construídos, na mais fofa das areias.

Se recapitularmos um pouco, vamos lembrar que desde os primórdios, as religiões foram inventadas primariamente para explicar os acontecimentos mais básicos do cotidiano, por exemplo, de onde vem o dia, a noite, a chuva, o trovão, as estações e por ai vai.  Um pouco mais tarde, começaram a servir para explicar de onde viemos, por que morremos, por que estamos aqui. Evoluindo um pouco mais o pensamento, serviu para justificar direitos sobre terra e poder, a qual posição hierárquica a pessoa pertence, o direito de escravizar, etc. E por fim, usada para justificar diretrizes morais, que SEMPRE, em todas as ocasiões, favoreciam, por muita "coincidência" àqueles mesmo que às divulgavam.


Como podemos perceber, os alicerces que sustentam essas afirmações são profundamente frágeis. Durante muito tempo resistiram, mas tal como uma partida de Jenga, após retirar uma peça, mesmo tentando realoca la, a instabilidade da sustentação só aumenta. Quando passamos a ter respostas mais convincentes sobre os fenômenos naturais, questionamentos sobre a participação no poder, etc, a torre começou a balançar.


Com isso cada vez mais as religiões se viram forçadas a reagir para não desaparecerem, se refugiando em teorias absurdas para conciliar seus dogmas com a ciência, como a risível teoria do "design inteligente", por meio de força e repressão, proibindo o acesso à informação, como no caso das ditaduras religiosas do oriente, ou se colocando como a palavra final em questões relativas à moralidade da sociedade, principalmente em países em movimento de reformas econômicas e sociais.

E tal como um animal que se sente que seu território esta sendo invadido, sua reação é atacar com ferocidade, dar exemplos de força, urrar, essas coisas.

O que estamos presenciando hoje é mais ou menos isso, o território das religiões esta sendo invadido. Tanto pela crescente parcela da população que esta migrando para o ateísmo quanto por aqueles que passaram a não mais encarar os dogmas religiosos com menor importância. Vemos uma crescente migração da crença em um deus pessoal que age efetivamente no dia a dia (algo até caricato) para um deus que existe mas não interfere no andamento do mundo (desnecessário).

Esses momentos de transformação já ocorreram, por exemplo nas saída da idade das trevas para o iluminismo (engraçado como a história se refere ao período comandado fortemente pela religião como treva  e a acensão do humanismo como luz). Para quem não é muito familiarizado com história, essa foi a época em que grandes dogmas religiosos começaram a ser derrubados pela ciência, como a teoria do geocentrismo e o formato da terra, por exemplo. E vendo suas esse avanço, qual foi a "solução" encontrada pelo poder da época? A fogueira. Da mesma maneira quando as mulheres começaram a pleitear um lugar de maior destaque na sociedade, foram declaradas como bruxas, e também foram às tochas. Já do outro lado, ainda vemos isso, porém ao invés de tochas, são pedras. Mas de novo, para não perder o poder, não perder território, reagem de maneira violenta, uma vez que o medo de alguma divindade já não se faz suficiente, imprimem o medo pelos representantes desta.

O que acontece aqui é parecido, porém com menor violência institucionalizada  apesar de existirem casos isolado, que cada vez mais deixam de ser isolados para se tornarem comuns. 

As religiões começam a perceber que seu espaço e relevância começam a diminuir. Para se defenderem desse avanço se refugiam nas poucas lacunas que ainda restam, como da existência de vida após a morte, algo que podem vender à sua clientela, já que nunca ninguém ira voltar para reclamar que foi enganado, e alguns assuntos que dão visibilidade e inflamam discussões como no caso do aborto e de relações homoafetivas.

Existe uma característica muito interessante nos animais que é o comportamento de bando. Temos a tendência de sempre seguir a multidão, isso explica por que gostamos de sentar em restaurantes cheios, pegar filas, etc. Em nossa cabeça, se tem muita gente, é por que é bom. Isso explica a tática das religiões evangélicas de fazer cultos barulhentos, presença constante na televisão, a figura de pastores que guiam seu rebanho, etc. Uma coisa tenho que admitir, elas utilizam todas as técnicas da psicologia comportamental com primor.

Por conta disto, que pelo menos em minha análise, concluo que a intensidade da "violência" na defesa de seu território é proporcional a intensidade da ameaça aos mesmos. E isso vale não só para a religião, mas como para a sociedade como um todo, principalmente, para voltar um pouco ao tema do post anterior, no que diz respeito àqueles que começam a ter alguns de seus "direitos" ameaçados. Podem me chamar de otimista, mas por isso que digo que a aparição de Felicianos e conservadores em geral é um sinal que o caminho esta correto.

Se estivessem estes confortáveis com a situação e com certeza da continuidade da influência de seu poder, não teríamos manifestações tão acaloradas. Como diz o ditado, não se chuta cachorro morto.

Infelizmente ainda é apenas o início da caminhada, muita gente ainda vai sofrer, física e psicologicamente. Presenciaremos ainda inúmeros casos de intolerância, perderemos batalhas importantes, mas, da mesma maneira que aconteceu quando os Nazistas decidiram marchar rumo a Stalingrado, o resultado final já é sabido.

Para quem sofre com na pele, sei que parecerá uma eternidade e muitos não virão a vitória final. Mas se serve como consolo, voltando à idade média, foram as fogueiras que começaram a dar um fim à escuridão.



sexta-feira, 12 de abril de 2013

Brasil, uma grande criança mimada



O grande problema de uma sociedade em fase de crescimento, como a do Brasil, é a incoerência. 

Como já até escrevi algumas vezes, as coisas só são certas quando são a favor, quando alteram em qualquer ponto o status quo, a pessoa/sociedade, age como se fosse uma perseguição, algo pessoal, tal qual a famosa personagem Veruca, de A Fantástica Fábrica de Chocolate.
Estamos vivendo uma época de profundas transformações. 

A principal delas é a divisão de poder. Por definição, poder é algo finito, portanto para que alguém tenha mais poder, alguém tem que perder. E por nossa sociedade ainda estar na fase de desenvolvimento de pelos pubianos, causa um grande desconforto.

Abrir mão de poder, por menor que seja é algo complicado em uma sociedade na qual se valoriza muito mais a posse do que o uso. Mesmo que países mais "adultos" deem claras manifestações de caminharem para o caminho oposto.

A sociedade tende a ter memória muito curta. Já vivemos N situações desse tipo, em menor ou maior grau. Um exemplo muito claro foi a entrada das mulheres no mercado de trabalho. Vamos ao exemplo.

 Há bem, bem pouco tempo atras, as mulheres não faziam parte efetiva do mercado de trabalho, e mesmo quando fazia não tinham grande contribuição no orçamento doméstico. Seus empregos eram muito mais considerados como Hobbies do que trabalhos em si, o poder de comandar a casa cabia ao homem, já que este era o provedor, este ditava as regras, preferia arcar com todo peso desta responsabilidade. Era o chefe da família.

Engraçado como as figuras de linguagem explicam muito. 

Chefe de família, fica clara a hierarquização da instituição. E é chefe pois é ele quem traz o dinheiro, (e dinheiro sempre foi, é, e queiram ou não, vai continuar sendo poder, mas isso é tema para outro post).

Um ponto muito interessante da psicologia humana é a aversão às perdas. O ser humano se sente muito pior em perder do que, comparativamente, ganhar. Quem quiser se aprofundar um pouquinho sobre este tema, aqui tem um bom começo, e uma boa bibliografia http://en.wikipedia.org/wiki/Loss_aversion

Com base nisto, podemos entender por que, no caso da entrada da mulher no mercado de trabalho, a aversão inicial, uma vez que a perda de poder do homem dentro de casa, uma vez que a mulher passaria a contribuir cada vez mais com o orçamento doméstico, é muito mais sentida do que os ganhos que a família passaria a ter, com um maior rendimento.

Foi necessária, literalmente, uma revolução das mulheres para tentar quebrar este paradigma e tomar um pouco de poder.

Em maior escala, vemos esse mesmo sentimento na mobilidade de classe social. A partir do momento que classes menos favorecidas passam a ter maiores recursos financeiros, passa a ter mais poder, e apesar de todo benefício que isso possa trazer à sociedade como um todo, por conta de nossa aversão à perda, o foco maior se dá à diminuição do poder das classes superiores.

(E apenas para deixar bem claro, e já deixando o tema para um próximo post, acredito que apenas o capitalismo propícia essa mobilidade entre as classes, e que apesar que a tendência é a busca por um equilíbrio, pessoas não são iguais, tentar trata las iguais é artificial, sempre existirão pessoas melhores e mais bem capacitadas que outras, e estas devem sim usufruir das vantagens obtidas pelo seu esforço.)

Isso fica evidente em dois casos recentes, o da regulamentação das empregadas domésticas e do direito dos gays. Existem muitos outros, mas para o texto não ficar cansativo, vou ficar apenas nestes dois.

Vamos ao caso das domésticas. Ao meu ver, o que acontece é o seguinte, uma grande parcela dos empregadores não enxergam esta relação como uma relação de trabalho, e sim como uma relação de assistencialismo. Algo do tipo, "Como exigir direitos, se ela não estivesse trabalhando comigo ela não teria oportunidade alguma na vida, estaria na miséria. Depois de ter aberto minha casa a ela, é este o agradecimento que recebo?". E aqui não faço nenhum juízo de valor. Não acho que quem pensa assim é mau caráter, nada disso. Mas a mudança do equilíbrio de poder é algo traumático. Quem pensa assim, acredito eu, na grande maioria dos casos, acha sinceramente que é um benfeitor. Mas não é. É um empregador, em uma relação de trabalho, na qual existem direitos e deveres de ambas as partes. Dentro das argumentações que li, o menor problema é a questão do quanto mais dinheiro seria desembolsado, e sim no quanto de poder que deixaria de estar concentrado nas mão de quem emprega. 

Já no caso do casamento gay, temos algo parecido. O que esta em jogo aqui não é o simples fato de duas pessoas que você não conhece, não convive, etc, poderem ou não casar, e sim a perda do poder de definir o que é normal ou não. A partir do momento em que é estabelecida uma igualidade de direitos a uma parcela da população que vive um estilo diferente do seu, fica claro que sua opinião não é mais importante que a dos outros, o seu poder passa a ser diluído, e em uma sociedade na qual o lugar que se ocupa é intimamente relacionado a quantidade de poder que possui, é novamente bastante traumático.

A tentativa das igrejas em tornar seus dogmas em leis não tem nada a ver com o que acreditam, afinal, se o que eles acreditam é verdade, por que não deixam as pessoas viverem da maneira que querem e depois serem punidas eternamente no fogo do inferno? A questão é pavimentar e consolidar o poder, pura e simplesmente isso.

Voltando ao título do texto, por que comparei nossa sociedade a uma criança mimada? Pois esta tem poder sobre os pais, e o poder, em maior ou menor grau, te dá o direito de não ser contrariado.

Estamos vivendo uma fase de redistribuição e redefinição de poder. O mundo caminha para uma época na qual o poder emana mais do uso do que da posse. De nada adianta deter coisas se não souber como às utilizar. E aqui vale para dinheiro, conhecimento, cargo hierárquico etc.

"Growing Pains", mas esse é o preço de um amadurecimento tardio. Apenas espero que cresça logo, saia da barra da saia da mãe, arrume um emprego e comece a encarar a vida como adulto

quarta-feira, 27 de março de 2013

sexta-feira, 8 de março de 2013

Desapaixone se!




Existem certos conceitos que de tanto serem repetidos, passamos a achar corretos, sem ao menos questionar. O de que a paixão é uma coisa boa é uma delas.

Tudo bem que a paixão tem um fator evolucionário importante, tanto que ao invés de ser algo do “coração” ou da, cof, cof, “alma”, a paixão é o efeito de uma combinação de hormônios, principalmente da endorfina, que inunda nosso cérebro e tem como principal fator nos fazer apegar a alguém em um curto espaço de tempo. O exemplo clássico disso é quando se tem um filho, evolutivamente falando, se você não aceitar e ser capaz de qualquer coisa por essa criatura no menor espaço de tempo possível, a chance dele perecer é gigantesca. Por isso, principalmente as mães, são inundadas de endorfina na hora do parto, primeiro, para aliviar um pouco a dor, e depois, para serem capazes de se relacionar e querer bem, imediatamente, aquele vetor te tanta dor e desconforto.

Outro exemplo clássico é quando encontramos o nosso parceiro, de novo, temos poucos momentos para nos “prender” àquele/a que serão responsáveis por dividir nossos genes. Óbvio que isso fazia muito mais sentido antigamente, quando ainda vivíamos felizes e contentes fugindo de leões na savana africana, mas isso foi coisa de apenas uns 100.000 anos atrás, um nada em matéria evolucionária, muito pouco tempo para perdemos esses comportamentos fisiológicos. Mas como não sou nenhum especialista no assunto, e que isso é apenas uma introdução a reflexão que eu quero propor, sugiro a quem tiver o interesse ir ao Google e procurar “Paixão + hormônios”, “Paixão + fisiologia” e “Paixão + evolução”. Tem muita coisa interessante.
Mas vamos ao real tema do texto. Muito diferente do que você lê por ai em poemas, imagens motivacionais do Facebook e em pagodes e músicas sertanejas, a paixão não legal.

A paixão se caracteriza, principalmente, por uma diminuição significativa do poder de crítica e avaliação. E isso é fácil entender sabendo das bases fisiológicas que formam a paixão. É muito mais fácil você se apegar e relacionar a algo uma vez que você não reconheça suas falhas e defeitos. Outro fator pernicioso da paixão é o sentimento de posse, claro, você passou a se apegar a alguém e não admite perder de maneira alguma. E isso leva ao lado sombrio da paixão.

É a paixão que leva pessoas “inteligentes”, “educadas” que sempre foram um “bom moço / moça”, a viverem em uma relação onde se releva abusos, agressões e onde para não perder alguém, a pessoa prefere matar. Não a toa que os chamados crimes passionais recebem um atenuante frente a legislação, pois sabe se, que foram cometidos no calor da emoção, no meio de uma inundação de substâncias químicas no cérebro do indivíduo. Em contra partida, crimes premeditados são um agravante. Por terem sido calculados, pensados, deglutidos e digeridos. Sim, a racionalidade é a antítese da paixão.

E antes que me entendam mal, e eu tenha um monte de coisas para explicar em casa, quero diferenciar aqui a paixão do amor. Na paixão, você se conecta a outra pessoa apesar, dos defeitos, afinal, você não os enxerga. No amor, você se conecta a outra pessoa, também, por causa dos defeitos. Você entende a pessoa com suas virtudes e suas falhas, entende que isso é o que a caracteriza e entende que é essa totalidade que você quer para a sua vida. O amor é o que fica quando o hormônio vai embora.

Contudo, existe um tipo de paixão que se apropria de alguns dos mecanismos da paixão entre indivíduos, abre a porta para a manipulação e infelizmente não é tão breve. Que é a paixão por ideias.

Futebol, política e religião não se discute. Uma das máximas que todo mundo engole e que me deixa mais enojado. Dizem que esses temas não se discutem pois os mesmos são movidos essencialmente pela paixão.
Como já falado, a paixão tira do indivíduo seu senso crítico. Cobre com um tapume os defeitos do objeto da paixão. Se não é possível ver as falhas de algo tangível, que esta ao seu lado, dividindo uma vida, o que dizer de ideias que são colocadas por figuras de autoridade e as quais na grande maioria dos casos não se tem acesso?

O maior perigo dessa paixão ideológica, não é o simples fato de achar que a sua é a correta. É automaticamente achar que as outras são erradas. Apenas uma ideologia movida a paixão é capaz de (e não escrevo isso para chocar, nem exagerar), trancafiar pessoas em uma câmara de gás, queimar pessoas que se entendem pro bruxas, cortar clitóris e prepúcios, se jogar dentro de um jato em um arranha céu, se amarrar com bombas e detonar las dentro de uma lanchonete, colocar indivíduos em um navio, comercializa los, torturar por ter pensamentos diferentes a respeito do bens e capitais, agredir com uma lâmpada fluorescente no meio de uma avenida, se preocupar se essas pessoas podem ou não podem se casar, relevar se estes roubam pois os outros também roubam, achar que sempre seu time perdeu pois o juiz roubou e não por que o outro time era melhor, ver apenas os acertos dos seus e os erros dos outros.

Tudo isso meus caros e caras, é fruto da paixão.

Dizem que sem paixão a vida não é completa. Mentira! Com paixão, você vê apenas um lado dela.

Mas muitos podem dizer, “mas a paixão é o motor para se alcançar feitos difíceis”, ou algo do gênero. Pode até ser, mas definitivamente não é a melhor motivação. É a mesma coisa de dizermos que você pode ficar rico trabalhando, ou roubando um banco. Nos dois casos, efetivamente você pode ficar rico.

Quando se deixa guiar exclusivamente pela paixão, você encontra maneira para justificar caminhos não tão corretos, atalhos éticos e morais. Apenas analisando e tratando os ideais da forma mais racional possível é que se pode chegar a um objetivo, tendo total consciência e todas suas implicações.

A internet é um teatro propicio a receber os discursos mais apaixonados possíveis, procure qualquer tema, qualquer tema, do mais ou menos polêmico, do de maior ao de menor relevância, e encontrará defesas apaixonadas para todos os pontos de vista possível.

Mas, o/a caro/a leitor/a pode estar pensando, “que ironia, um discurso apaixonado contra a paixão”. Pode até parecer, se bem que não faz muito sentido, semanticamente falando. Porém para deixar claro, entendo todas as vantagens e desvantagens de se ver a vida da maneira mais racional possível. Apesar de entender que no longo prazo é a melhor e mais saudável maneira de se encarar a vida. Entendo também seus pontos negativos, por exemplo, é difícil, é chato, você acaba por ter dificuldades para entender as emoções das outras pessoas, passa a não ter uma relação diferente com seus sentimentos, tem menos frio na barriga, questiona essa busca incessante pela felicidade, enfim, poderia listar páginas de fatores não tão bacanas da vida pela racionalidade e procurar encarar tudo com uma abordagem e métodos mais científicos. Mas como escrevi lá no começo, essa é a diferença de paixão e amor. Entendo todos os contra tempos, mas ainda é o penso fazer mais sentido para ter na minha vida.

Por isso, desapaixone se, desapegue de ideologias, de verdades enlatadas. Tire suas próprias conclusões, encontre suas verdades, e mude as, a partir do momento que apresentarem novos fatos que vão contra.
Por isso sou fã do método científico, pois até o mais “enamorado” a uma tese, a uma ideia, será o primeiro a larga la no primeiro momento que a mesma for desprovada.

Sonho com o dia em que algum fanático, seja lá do que for, largue suas convicções por elas terem sido provadas erradas. Porém, entramos em um ciclo retórico, afinal, para isso acontecer, é necessário que se veja o lado contrário um agente que pode ter informações relevantes.

Duvide de quem te fornece verdades absolutas, as verdade transitórias são mais confiáveis. Se uma verdade baseada em fatos e não em ideias esta ai por um bom tempo, a chance de estar aí pelo simples fato de ainda não ter sido desprovada, tem muito mais valor.

Desapaixone se, pense, critique tudo e todos.

Apenas o ceticismo te libertará.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Papai Noel e os sinalizadores de Santa Maria e Oruro



O que Papai Noel tem a ver com os sinalizadores em Santa Maria e Oruro? Além de seu um título para chamar a atenção para este texto, ao meu ver tudo. Vou explicar.

Vivemos em uma sociedade baseada no medo de punição. Somos criados com uma mentalidade não de fazer o bem, e sim a de não fazermos o mal. E esse não fazer o mal, também não vem acompanhado de um embasamento ético, ele vem em companhia do medo de punição. Acho que todos somos familiarizados com as frases “Se comporte se não o Homem do Saco vai te pegar”, “Papai Noel não traz presente para criança mal criada”, “Se não comer tudo não vai ganhar ovo de chocolate do Coelhinho da Páscoa”, “Se você roubar, vai para o inferno”, “Presta atenção que matar da cadeia” e muitas outras, em todas as suas variações.

Esse tipo de repressão pode até surtir efeito na hora, mas ela tem um preço. Uma sociedade que deixa a responsabilidade da punição sempre a um agente terceiro. Aprende se a se manter na linha única e exclusivamente por medo da punição. Junte se a isto um estado fraco em termos de justiça e temos aqui a sociedade em que vivemos.

Afinal o que esperar de uma pessoa que cresce sobre essas bases, quando começa a perceber que Papai Noel não existe, nem Homem do Saco, nem Coelhinho da Páscoa, que se confessar e pedir perdão te livra do inferno, (precisei me controlar muito para não falar “nem Deus”, mas hoje o tema não é esse, mas apenas para informação geral à nação, não existe nem inferno, nem punição divina, e óbvio, nem deus. J )e que é muito difícil ser preso, e quando é, acaba por ser muito fácil sair?

Acabamos por ter uma sociedade cada vez mais permissiva, na qual a impunidade vira uma cultura e o fato de assumir responsabilidade de seus atos uma figura muito mais teórica do que prática. A quantidade de leis, de instâncias e brechas facilitam tudo isso.

E acaba por ser um ciclo vicioso, como visto aprendemos desde cedo a reprender o mal comportamento por meio de ameaças, então quando a situação fica complicada, qual a tendência? Criar mais leis, mais ameaças. E o que isso gera? Mais leis que não são cumpridas, maior sentimento de impunidade, novos problemas, novas leis para resolver esses problemas, e por ai vai.

Posto isto, vamos ao título deste texto, como relacionar o fato de acreditar em Papai Noel e ascender um sinalizador dentro de uma boate fechada ou atirar com um sinalizador marítimo contra uma torcida adversária? Simples, essas pessoas são idiotas. Não tenho dúvida que nem um nem o outro não tiveram a intenção de matar ou ferir ninguém. Na cabeça deles o fato de não poder utilizar tais artefatos era apenas mais uma lei, mais uma norma que estão ai para não serem respeitadas.

Vivemos em uma sociedade que entrega de bandeja o que podemos e o que não podemos fazer, e que nos ensina que geralmente o que não podemos fazer, não tem nenhuma consequência quando é feito. Não se incentiva a pensar o motivo pelo que não pode ser feito.
Então na cabeça desses elementos, falta uma parte importante na ferramenta de raciocínio, aquela parte que faz você parar por um momento e analisar, quais as implicações desse ato? Passa então ser natural acionar um artefato sendo que o único motivo que o impediria, é uma lei cujo seu desrespeito não se transformará em nenhuma punição.

Ok, o problema foi exposto, o que fazer então para resolver? Infelizmente o que a resposta tem de simples, tem de desanimadora. Bastaria a curto prazo fazer as leis funcionarem efetivamente, punir do mais banal ao mais grave incidente. E a longo prazo, mudar a cultura de como as crianças são educadas, tirando essas ameaças vazias do dia a dia, e ensinando a calcular causa e consequência, hipótese, tese e conclusão. Com isso garanto para vocês que uma pessoa não vai pegar em um carro bêbado, não pelo motivo de ser proibido, mas vai estar construído na mente do indivíduo a seguinte relação: bebida diminui os reflexos, o tempo de raciocínio e o poder de julgamento, dirigir é uma atividade que envolve reflexos, raciocínio e decisões, logo bebida e volante não combinam.

Existe uma expressão em inglês, a qual eu adoro, que é a seguinte: Be good for goodness sake, que traduzida ficaria algo como “seja bom pelo amor ao bem”, ou algo do gênero. Ela que nos faz fazer algo de uma maneira certa e ética quando não tem ninguém olhando, ou quando não tem punição envolvida. E sei que é uma utopia minha esperar viver um dia em uma sociedade que viva com base nisso. Ainda mais quando vejo pessoas que tiveram todas as oportunidades do mundo para aprender a ter este tipo de mentalidade, utilizando twitter para fugir de lei seca, dando jeitinho em imposto de renda, fazendo “gato-net” afinal, se os outros fazem, levam vantagem e não são punidos, por que motivo eu tenho que me sujeitar a seguir na linha. Porém, esses são os mesmos que quando da uma merda em uma festa de estudantes, EXIGEM que todos sejam presos, até o médico que fez o parto do dono da boate. E o que me assusta, e me assusta muito, é que eles não são capazes de fazer uma relação entre os próprios atos e as tragédias dos terceiros.